O Custo das Infecções para a Sociedade
- Grupo de Estudo e Pesquisa em Economia da Saúde
- 21 de mai. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 31 de mai. de 2019
A primeira coisa que me vem à mente quando de fala em CUSTOS em infecções é a morte. Mas é claro que isso não sensibiliza gestores ou quem está longe dos corredores e dos cheiros dos hospitais, particularmente um hospital cheio e altamente complexo como o meu em se falando de especialidades e jeitos humanos.
Uma força importante na balança é o quanto eu, como controladora de infecção hospitalar, economizo com a suspensão dos antimicrobianos. O que está certo também. Se eu uso com racionalidade e rapidez, mais eu consigo ajudar um pai, uma mãe de família e mais rápido eles voltam para casa. Outro peso positivo é o quanto reduzo de solicitação de exames dentro da minha área tais como hemocultura, cultura de aspirado traqueal e urinocultura. O problema é que nem sempre essa conta fecha. Para dar um diagnóstico eu preciso de exames específicos que mostrem o crescimento bacteriano, que são as tais culturas e preciso entrar com drogas que sejam contra esse crescimento, os antibióticos. É aí que começa o meu “fiado”.
Com a espera grande por uma arteriografia, o paciente que já entra com um pé diabético infectado troca as suas bactérias “boas” pelas da flora do hospital, as “más” que obviamente só morrerão (ou ao contrário, criarão mais força) com antibióticos feito para elas, as drogas hospitalares. Vê como se pode produzir uma infecção hospitalar? A espera para o desenrolar do caso se vira contra todos nós, médicos, enfermeiros, farmacêuticos e o pior, para quem veio buscar ajuda.
Outro exemplo são os imunossuprimidos que precisam ficar em isolamento por quimioterapia que arrasam seus neutrófilos. Esse quadro é relativamente lógico, pois dentro de nós existem as enterobactérias que por translocação (elas andam dentro do corpo através dos pequenos vasos do intestino) atingem a corrente sanguínea e fora do seu habitat natural, causam febre e sepse em horas. O isolamento nessas circunstâncias é dito reverso, ao contrário, somos nós cuidadores que podemos transmitir algo a ele. Muitas vezes esse isolamento é inoperante. Uma conta que poderia se pagar muitas vezes se transforma em diária de UTI, máquina de hemodiálise, drogas vasopressoras e ... antibióticos e antifúngicos mais caros.
Durante muitos anos no Brasil se evitava falar sobre meu setor. Era feio. Parecia displicência. Outro dia, conversando com um taxista, ele me perguntou exatamente isso: “Ô Doutora, por que existe tanta infecção dentro dos hospitais?” Isso me assustou porque mostra que as pessoas estão ligadas. Eu respondi: “Por que existem pessoas”. Nessa minha resposta meio filosófica eu quis dizer, existem pessoas a serem tratadas e agora, uma notícia chata, existem pessoas que não seguem orientações também, nós, os profissionais de saúde. Em todo mundo, da Suíça à Etiópia o método mais barato e eficaz de redução da cadeia de transmissão das bactérias multiressistentes é a higienização das mãos. Seja pelo volume de trabalho, seja por não acreditarmos que essa flora toda cabe nas nossas palmas, a taxa de higienização
de mãos do brasileiro é pífia. Menos de 40% onde comparado com o americano ou o argentino, isso mesmo, o argentino, são de mais de 90%.
Não sou pessoa de somente apontar problemas, dou soluções também.
Uma delas é o nosso Time de Antimicrobianos, porque trabalhar em conjunto dá uma excelente economia. Fazem parte desse grupo infectologistas e farmacêuticos clínicos e como time, vemos o tratamento do paciente de uma maneira individualizada, garantindo pelo menos um tratamento de alto custo, por exemplo. É mais fácil terminar um ciclo inteiro e garantir a cura de uma pessoa que seja, do que começar vários tratamentos sem ter continuidade. Até para ajudar precisamos entender de gestão.
Outro passo grande foi dado com a aquisição de um aparelho de PCR, exame genético, que detecta em 60 minutos o tipo de bactéria e seu gen de resistência. Isso tem um custo muito superior às culturas, mas podemos escolher ou até mesmo tirar o antimicrobiano do paciente com certeza e com rapidez. Custo benefício e efetividade sem igual.
As infecções se dão também ao término de tratamento de uma primeira infecção, aos moldes do senhor do pé que citei. Então que tal fazer com que esse paciente saia do hospital assim que possível, e venha tomar o antibiótico até terminar seu ciclo? Esse será nosso próximo passo logo, logo. O projeto de Desospitalização já foi aprovado e é totalmente factível. Se ele melhora e só fica no hospital para terminar o antimicrobiano, ele pode ir de alta, voltar quantos dias forem necessários para acabar seu tratamento em um ambulatório-dia e depois pronto! Alta geral. Liberamos um leito de enfermaria, a diária do médico, da enfermeira e do técnico, custos com exames de laboratório, custos com exames de imagem dentre outros.
A Economia da saúde é necessária, não só para mostrar números, mas para os recursos serem usados bem, à nosso favor, de quem cuida e de quem é cuidado, evitando assim o custo pior e irreversível, as mortes por infecção hospitalar.

Lucianna Auxi Teixeira Josino da Costa é Médica Infectologista. Mestre em Ciências Médicas - Farmacologia Aplicada - UNIFOR. Doutoranda da Rede Nordeste de Biotecnologia – RENORBIO.
Médica especialista em Prática Ortomolecular. Board and Fellow in Stem cell and Regenerative Medicine - A4M -USA. Member of International Society of Stem Cell Research - ISSCR.
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