Cuidados Paliativos em pacientes oncológicos
- Grupo de Estudo e Pesquisa em Economia da Saúde
- 30 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 31 de mai. de 2019
"Eu me importo pelo fato de você ser você,
me importo até o último momento de sua vida
e faremos tudo o que está ao nosso alcance,
não somente para ajudar você a morrer em
paz, mas também para você viver até o dia da
morte." Dame Cicely Saunder
É desafiante falar de cuidados paliativos em qualquer cenário, seja oncológico ou outras doenças sem possibilidades de cura, com crianças, adolescentes, jovens ou adultos. São indivíduos que estão em sofrimento, juntamente com familiares, cuidadores e equipe assistente, pessoas que precisam de conforto (físico, psicológicos, espiritual). As dores se misturam, se complementam e assombram. São dores de perdas, perda da mobilidade, da independência, perda do sossego, do lar, dos sonhos, do trabalho, de dinheiro. Uma doença sem possibilidade de cura traz sentimentos os mais diversos, contraditórios e insanos.
Foi diante de uma paciente em fase ativa de morte no meu primeiro dia de trabalho no Hospital Universitário de Brasília (HUB) que veio a questão da morte, do valor de uma vida e como as perdas impactam na vida das pessoas envolvidas (familiares, cuidadores, profissionais) e mais fortemente a própria pessoa que está se despedindo desse mundo conhecido para adentrar um outro do qual pouco ou nada se sabe de concreto.
A lembrança dessa jovem mulher no seu leito de morte, em consequência de um câncer de mama, deixando seus filhos pequenos, seu companheiro, e as últimas palavras de conforto dadas por sua mãe, tocaram-me profundamente e fiquei a imaginar tamanha dor. Essa imagem foi um marco inicial da minha jornada na oncologia, mais especificamente nos cuidados paliativos.
Marcante também foi presenciar a atuação de uma profissional médica extremamente humana falando aos seus pacientes em fase terminal, passando segurança que não sentirá dor ou sofrimento e que poderá estar com seus familiares, e a este lhes consola com palavras gentis, mas sinceras quanto a finitude do seu ente querido.
Trabalhar com os pacientes oncológicos, acompanhar sua rotina na internação quando em cuidados paliativos, fez-me refletir como seria seu sentimento diante da proximidade da morte, quais sensações, pensamentos, desejos, como se observa e ao mundo ao seu redor.
Acompanhar cada um que pela enfermaria passou, sua história, como chegou ali, sua trajetória durante a doença, seus sonhos. Foram em conversas informais durante minhas caminhadas à tarde, quando a enfermaria estava mais tranquila e alguns não recebiam visitas, que fui me interessando mais e mais pela questão “como ele percebe sua qualidade de vida neste ponto, em cuidado paliativo, sem perspectiva de cura”.
Embora sabendo que nada de essencialmente novo trago ou apresento ao redigir esse texto, posso mostrar uma realidade posta e dela melhorar minha prática assistencial e propor melhorias ao serviço de atenção aos pacientes oncológicos e suas famílias.
Falar sobre a qualidade de vida de pacientes em cuidados paliativos por doenças oncológicas é visitar a finitude do ser humano, a finitude de cada um, inclusive a minha, e acompanhar suas falas e seus momentos finais é tomar consciência do valor de cada dia, de cada momento que é único e não volta.
Como diz a música de Lenine, Simples Assim “a vida continua surpreendentemente bela mesmo quando nada nos sorri e a gente ainda insiste em ter alguma confiança num futuro que ainda está por vir, viver é uma paixão do início, meio e fim, pra que complicação, é simples assim (...)”

Daisy Mendonça atua como gestora da Unidade de Clínica Geral do HUB-UNB. Enfermeira graduada pela Universidade Federal do Ceará. Pós-graduada em Vigilância Epidemiológica pela Escola de Saúde Pública do Ceará e em Direito Sanitário pela Fiocruz-Brasília. Mestranda em Políticas Públicas em saúde pela Fiocruz-Brasília
Comments